Uma entrevista com Ruta Massunguine.

A Ruta Massunguine é a coordenadora comunitária do Projecto de Saúde Maternal Moçambique – Canadá. Ela orientou a criação de comités de saúde em cada uma das 20 comunidades parceiras, bem como a criação de micro projectos comunitários. Estas pequenas empresas lideradas por mulheres melhoram os determinantes sociais e económicos de saúde. Nos últimos meses, 7 microprojectos novos foram criados, por isso achamos ser oportuno entrevistar a Ruta sobre o seu trabalho e sua vida. 

Como é que os microprojectos são criados?

A criação de cada micro projecto comunitário tem uma história longa, começando com o levantamento das necessidades na comunidade, seguido dos passos importantes para a sua operacionalização. Os 7 micro projectos recentemente criados estão nas comunidades de Como e Dindane no distrito de Homoine; Chicungussa e Nhaca no distrito de Morrumbene; Chipongo no distrito da Massinga e Chipanzane e Marrure no distrito de Vilankulo.

Ruta a trabalhar com um comité de saúde local na organização de actividades como um micro projecto

Como é que os Comités de Saúde locais apoiaram a criação dos microprojectos?How did the Local Committees of Health support the formaton of the microprojects?

Os comités apoiaram a criação dos microprojectos através da organização dos trabalhadores para o micro projecto, busca de recursos na comunidade, armazenamento de bens, monitoria do uso racional dos materiais da instalação e monitoria do equipamento até a instalação final dos microprojectos. Foi interessante constatar, durante o processo de instalação dos microprojectos e equipamentos, que os membros monitorizavam os bens até à sua utilização, percebiam a importância de registar a produção e o rendimento e a necessidade de dividir o rendimento para o seu próprio bem, assim como para o próprio micro projecto.

Trabalha com 5 trabalhadores do projecto, cada um dos quais reside num dos 5 distritos. Como é que eles apoiaram a criação dos microprojectos?

Micro projecto de uma moageira que reduz o trabalho das mulheres na comunidade

Eles ajudaram a comunidade a fazer o levantamento das necessidades de modo a identificar o melhor tipo de projecto para beneficiar a comunidade. Trabalharam com a comunidade nos passos importantes para a criação dos micro projectos, identificando as condições locais a ajustar na implementação do micro projecto, realizando um levantamento de cotações para a aquisição de materiais, garantindo a sua qualidade e adequação. Organizaram o transporte dos recursos necessários para cada local e monitorizaram o estabelecimento do micro projecto de forma contínua.



Como é que os comités de saúde e os micro projectos ajudam a prevenir a Covid?

Os membros divulgam as mensagens principais das medidas de prevenção da COVID 19 nas comunidades onde vivem e dentro das suas famílias. Eles procuram e aconselham as pessoas recém regressadas dos países vizinhos ou locais em Moçambique onde a COVID 19 está concentrada em proporções alarmantes. Os Comités de Saúde locais fazem o encaminhamento ao trabalhador comunitário de apoio e este por sua vez ao nível distrital que na sequência alcança-nos através da base de dados de cada distrito.

Pode nos contar o que lhe fez interessar-se e chegar à liderança nesta área?

Tudo começou com a minha formação como Enfermeira de Saúde Materna e Infantil, onde jurei trabalhar para o povo e com o povo. A minha história particular de trabalho com a comunidade começou na formação de parteiras tradicionais em que fui formadora, seguida da formação de agentes polivalentes elementares (APE´s) em que fui formadora e directora do trabalho que resultou no Centro de Formação de APE em Massinga com o financiamento Suíço, e fui membro da equipa principal que criou o actual Centro de Formação de Saúde da Massinga, com apoio do Canadá. 

Com o THRP Canadá, que precedeu o Projecto de Saúde Materna, aumentei a minha capacidade de trabalhar com a comunidade, começando com a formação em Saskatoon, Canadá onde aprendi e trabalhei com pequenas organizações de apoio comunitário como a “Good food Box” CHEP.

Quando regressei à Moçambique abracei o trabalho comunitário criando comités de saúde como é o caso de Tevele e Basso. Aqui começamos com a identificação de determinantes de saúde, aprendizagem mútua e a criação de um pequeno microprojecto de distribuição de redes mosquiteiras para combater a malária, que era o maior problema naquela comunidade.

Fui transferida à DPSI, a direcção provincial de saúde, para gerir o Programa de Saúde Materna e Infantil, onde trabalhei durante seis anos vivendo e resolvendo problemas de saúde de mulheres e crianças. Em 2012, tive oportunidade de trabalhar com uma organização na JHPIEGO para a defesa da saúde das mulheres, onde trabalhei com quase toda a província para a implementação de Maternidades Modelo. Consegui orientar a equipa rumo à criação de três Maternidades Modelo, nomeadamente a de Vilankulo, Quissico e Massinga. 

Com toda esta experiência, senti que o meu sonho se tornava realidade, quando em Fevereiro de 2015 fui convidada para trabalhar com o Projecto de Saúde Materna e Infantil Moçambique – Canadá e para voltar a trabalhar com a comunidade precisamente para melhorar a saúde materna.

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